domingo, julho 13

Com um café entre Graça e Burmester


Chego e sento-me, como faço em qualquer café que me agrade e que me sirva para reflectir sobre as minhas vidas. O moço de avental há-de trazer-me o café gelado de sempre. Bebido, hei-de escrever o que quer que seja. Hoje inclino-me para a arte de Graça Morais ou mesmo para a de Gerardo Burmester. Ambas me fascinam. A primeira porque a sinto quase kafkiana pelas suas metamorfoses e como olha para o mundo humano a devir animal. A segunda porque exige que olhemos para ela sem grandes delírios. Quer que nos livremos de tudo o que está lá fora e que, por momentos, a sintamos, ou melhor, nos sintamos dentro dela. Viro a página, desvio o olhar e aprecio as pequenas árvores que um dia hão-de dar sombra àquela fonte, os traços rectos da construção que hoje cheiram a fresco e amanhã alimentarão heras e bichos. Amanhã. Amanhã é segunda. As portas estarão fechadas. Vazios de gentes, os corredores darão descanso aos vidros que desenham retratos de quem os olha. Fecho o caderno. Arrumo-o. A caneta, essa empresto-a ao corrector de trabalhos. O outro eu. A minha outra vida.