do nascimento ou da morte
Ontem nasceu clarice, dia 10 de dezembro. no dia anterior, morreu. quem a leu e lê, sabe que a escritora é antiga, absoluta: ressuscita-nos enquanto lemos e experimentamos a miséria das suas personagens que, já inicialmente, anunciam uma morte, se não física, para o mundo. vão morrendo, aos poucos. retirantes, primeiro, corroem-se-lhes as entranhas, analfabetas e incapazes de se darem ao mundo - são silêncio por fora - porque parcas são as palavras e insuficientes para que alguém as ouça e entenda. só o leitor. esse, sim. invade-as, reencarna-as e num instante, epifânico, transforma-se nessa quase gente. ao ler, é. clarice foi assim, antes de nascer já havia morrido, como as suas personagens. entristecia por dentro e, ao mesmo tempo, definhava, escurecia. era letra preta em papel branco. morte e vida.
ontem, escureceu. hoje é noite, chuva e vento lá fora. escureço também e penso que a natureza recorda clarice, como eu, porque entristeceu e ainda chora entre soluços. cá dentro ouço-a, a noite, macabéa sem (a hora da) estrelas.
1 Comments:
Aconcheguei-me no teu texto. . .
Mas não consegui sorrir. . .
Deixei-me entristecer. . . Suavemente!
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