terça-feira, março 20

Somos... e sabemos...


Um destes dias, quando prometia a uma amiga que havia de escrever sobre o festival, não o fiz de forma consciente...
Sempre ficamos atordoados quando temos a possibilidade de partilharmos um espaço com vozes que, por algum motivo, ecoam cá e lá fora... e cá dentro.Não é difícil perceber, para quem se perde facilmente nas palavras dos outros, escritas ou faladas,que há leitores tresmalhados como eu. Perdem-se, assim, sem mais...
Mas, mesmo perdido, poderia dizer que me alimentaram a tal "tensão" geradora (nomeada por Fernando Pinto do Amaral numa das suas sempre pacíficas intervenções), que me fez esboçar este texto que, por falta de tempo, guardei na gaveta à espera de um dia de sol e silêncio.
Hoje foi o dia. Lá fora, a tarde amena convidou-me para um café na esplanada de quase sempre.
Reli o pouco que escrevera:
Éramos pobres, violentos, piegas e originais... e não sabíamos! E agora? Continuamos pobres, violentos, piegas e originais, mas mais conscientes? Não creio! Aumentámos a nossa pobreza, a nossa violência, com mais pieguice, menos originalidade, e excessiva inconsciência. E não me parece que esteja a ser exagerado!
Mas nunca admitirei que somos naturalmente pobres. E se o somos, é porque, naturalmente, nos rendemos a um comodismo doentio e epidémico, acompanhado de uma inércia ridícula, que ameaça tornar-se uma característica genética, nossa, portuguesa! Cuidado: os trapos que vestimos e fazem de nós pobres podem virar vísceras!
Entretanto, o sol escondeu-se e acinzentou-me o céu e o papel. E recolhi-me.