domingo, maio 1

WANG WEI



Seduzido pelo cinema oriental, decidi-me também pela poesia chinesa. Não havia muito por onde escolher, até porque a referência que tinha era uma: encontrar uma tradução de António Graça de Abreu. À partida, a tarefa não se assemelhava difícil, pois supunha que um ENTER no assistente da biblioteca de imediato me disponibilizaria a obra deste ilustre tradutor. Não entendam este elogio como se de ironia se tratasse, pois estariam tremendamente equivocados. Há tempos que sentia um impulso por poder adentrar-me por esse mundo tão longínquo, mas que está aí, já, felizmente. Adiante. O computador quis atraiçoar-me e nem sequer um livro me permitiu encontrar. Começava a desanimar-me, pois não me imaginava a ver livro a livro cada uma das estantes da biblioteca municipal! Um ímpeto instantâneo e inexplicável levou-me quase que intuitivamente a uma estante quase vazia. E, na verdade, ali estava eu defronte o oriente longínquo, com dois ou três livros de poesia chinesa. Um deles era do tal tradutor, pelo qual, sem o conhecer, nutria já uma certa simpatia, mais não fosse por me permitir iniciar numa literatura que na sua língua original para mim seria verdadeiramente chinês.
Poemas de Wang Wei: um mandarim de profissão, poeta, músico, calígrafo, pintor... do séc. VIII, um poeta da natureza tranquila e serena. Traça-nos com o seu pincel retratos diários da sua vida: um camponês, uma pedra do rio, uma brisa, um sol poente, uma flor... leiam, que vale mesmo a pena.


Eis um exemplo:

Adeus a um amigo

Ao entardecer, um adeus no trilho da montanha,

fecho o portão, a escuridão envolve os montes.

No próxinmo ano, a erva da Primavera despontará outra vez,

e tu, meu amigo, regressarás também?