quarta-feira, maio 14

...sinestesias


Olho à minha volta e, da mesma forma que um matemático há-de analisar a realidade com os seus óculos, também eu verei o que me rodeia com as minhas lentes de aprendiz. Não sou original no que escrevo - Kristeva e Bachtin hão-de dar-me razão - limito-me tão somente a plagiar meia centena de homens que viveram e escreveram antes de mim. Quem leu Nava há-de compreender-me melhor, quem não leu ... estou certo que não tardará a dirigir-se a uma qualquer livraria para pedir uma antologia azul da D. Quixote. Dizia ele, o Luís Miguel, que há tantos mundos quantas as línguas. É claro que no seu discurso encontrareis a poesia que aqui não existe. Sabereis então, também ao folhear as suas palavras, que foi o poeta que nos cantou mais por dentro, onde somos vísceras e sangue. Viu, sentiu, cheirou, ouviu, tomou o gosto de cada coisa com todos os sentidos. Curou-se da cegueira epidémica. Essa que nos limitou a ver com os olhos, a sentir com a pele, a cheirar com o nariz, a ouvir com os ouvidos e a tomar gosto com o paladar. Depois inventamos sinestesias.