segunda-feira, janeiro 30

(To)Mar Adentro



Amanheço junto ao mar e faço-me à viagem. Adentro-me por vales e penedos e arrepio-me com um frio que adivinha neve. (O homem da meteorologia assustou a minha mãe e convenceu meio Portugal que havia de cair neve como nunca, mesmo para os mais incrédulos.)
Com fartos raios de sol, desenha-se na sombra do meio-dia a cidade templária. Entre os ecos raros de um silêncio de almoço rebusco nos recônditos da minha memória os esboços da cidade eleita. Sento-me a uma mesa chinesa para alimentar um corpo gelado. E o mar segreda-me ao ouvido. Saio e deambulo pelas mesmas ruas, mais vazias e menos festivas que naquele verão.
A novidade é a visita da Romy, com os cadáveres das árvores mortas no verão passado, feitos obras de arte e enclausurados na sala de exposições do Paço. A sinagoga é a mesma, com as mesmas peças e a simpatia do povo judeu encarnada num casal ancião que se esforça por abrir as portas sob a estrela de David. - Ali estão os pilares matriarcas da religião judaica: Sara, Rebeca, Lia e Raquel. É a mulher que concede o direito à religião. Se a esposa for judia o filho há-de ser judeu; se for cristã será cristão... Depois perco-me pelas estreitas ruas, feitas canais. Navegarei por museus, parques... saborearei beijos e abraços invisíveis.

3 Comments:

At terça-feira, 31 janeiro, 2006, Anonymous Anónimo said...

Penso que o texto está muito bem escrito. Gostei, siceramente, de o ler. Apenas algumas sugestões: não abuses da preposição "com": "Com fartos raios..."; "...com oas cadáveres das árvores..."; ...com as mesmas peças...".
Outra sugestão: quando as orações subordinadas (neste caso condicionais) aparecem à cabeceira da frase, elas devem vir seguidas de uma vírgula: "Se a esposa for judia, o filho...; se for cristão, há-de ser...".
Parabéns!

 
At quarta-feira, 01 fevereiro, 2006, Blogger eduardo pires said...

Agradeço o comentário, sempre a ter em conta. Vou tentar, de futuro, ser menos repetitivo.
A ausência de vírgulas mais não é que uma tentativa (falhada ou não, já mo dirás) de reproduzir o discurso da senhora. É, no entanto, oportuno o teu comentário; desta forma esclarecerei, também, os meus habituais leitores.
Cumprimentos académicos,
fica o braço,
fiodor

(Nota: as gralhas do comentário foram, antecipadamente, comunicadas ao autor do blog; deste modo,ignorem-nas... para bom entendedor, meia palavra basta.)

 
At quarta-feira, 01 fevereiro, 2006, Blogger eduardo pires said...

Errata: onde se lê braço deverá ler-se abraço.

 

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