domingo, janeiro 27

Do processo

hoje pediram-me que voltasse a escrever, quase como se importasse aos outros a forma como vejo e sinto o mundo. como se fosse eu cada um dos seus sentidos ou as minhas palavras cada sensação que lhes fica presa em qualquer parte do corpo, perdida, e não conhece mundo. perguntam-me do processo: calo-me, engulo as palavras que vou ouvindo, as que posso, e armazeno-as em cada um dos órgãos que, vazios, as hão-de transbordar, com o tempo, para o meu sangue, líquidas. depois, percorrido o corpo, chegarão aos pulmões e expiradas, entre cordas, virarão sons de um monólogo que as minhas mãos hão-de transcrever. haverá sempre palavras que se perdem, decantadas; outras que, indigestas, o corpo desaproveitará em... 
                             @killjoy-doll